Fragmentos

..o que não deve ser esquecido.

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20111002

Dimensões da Violência



Era um mistério, a fotografia assombrada que sempre pegava fogo à noite, mas permanecia intacta durante o dia.
Chamavam padres exorcistas e mães de santo, mas nada conseguia solucionar o mistério.
Daquele frame estático, os olhos brilhantes como botões de madreperóla, congelados, um daqueles momentos memoráveis.
Mas a moldura se desfazia, toda vez que se perdia o controle. Fazendo a casa derreter como se fosse de cera.
O gramofone podia funcionar, mas se posto aquele disco, apenas gritos e sons arranhados podiam ser ouvidos, entre gemidos e um som de cama de ferro rangendo.
Por falar em rangidos, tudo rangia, as portas, as janelas, o chão.. as paredes, quando ventava lá fora. Até o vento gemia.
Mas o maldito gramofone gritava, entquanto a fotografia ardia.
Com o tempo, não foi esquecido o fato de haver assombração, apenas não se falava mais no assunto.
"Nunca toquei-lhe, minha mão não será suja com isso, eu prometo que permanecerá imaculada, esta fotografia."
Toda agressividade pode ser contida numa palavra ou num som; então qual é a dimensão da violência, se o corpo não é apenas físico?

A fotografia arde, mas recusa-se a desfazer, a perecer, a desaperecer.
Estou mastigando vidro, enquanto a pele da mão enrola-se de queimaduras.
Sorrio, o gramofone ainda funciona.
A noite adentra, vamos dançar - enquanto todo o resto queima até os ossos.

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